25 março 2007

Descalabro


O "cadastro" do património destruído em Maximinos, Braga, ao longo das últimas décadas, pode muito bem ser um reflexo de toda a cidade e um exemplo a evitar. Uma freguesia antiga, onde abundavam as casas senhoriais e os templos, junto ao sossego da ruralidade, viu-se aos poucos transformada num coração urbano descaracterizado, com problemas sociais graves e edifícios degradados. As diferenças entre o passado e o presente são arrasadoras.

Cresceu a galope, sobretudo no último século. Foi, aliás, das localidades que mais cresceu no concelho. Em tempos recentes, a própria monografia da freguesia assinalava também que a destruição do património era "tradição" de Maximinos. Uma visita pelas ruas confirma isso mesmo, se já não bastasse constatá-lo com o recente anúncio da demolição da Casa da Orge, para dar lugar a um prédio de habitação.

O que está, hoje, onde estavam exemplares construídos digno de interesse histórico, datados dos séculos XVIII e XIX? A "Casa das Moreirinhas", habitação de que a população tanto se orgulhava, deu lugar ao centro comercial Galécia, a que muitos chamam de "mamarracho". A "Casa da Estação", cuja traça se estima pertencer ao arquitecto Moura Coutinho, rendeu-se ao cinzento de um hotel. Desapareceu também o Museu da Estação.

Do lado contrário da rua, o antigo edifício dos eléctricos e, posteriormente, dos serviços municipalizados foi transformado em mais uma galeria comercial. "Aquilo mais parece um hospital", acusam um maximinense que passa, sem abrandar o ritmo. Igualmente apressado é o trânsito da Rua do Caires, ali mesmo ao lado da renovada estação dos caminhos de ferro, cujos primórdios rasgaram modernidades na freguesia.

A alguns metros a subir, a exuberante "Casa de Santos da Cunha", homem de cuja obra resta a gigantesca estátua na rotunda com o mesmo nome, deu lugar ao moderno edifício dos correios. A progresso acabou também com a Casa de Machado Caires, o benemérito da freguesia, e, nos últimos 30 anos, varreu fontanários, memórias colectivas, ruas ordenadas. A antiga escola local foi ocupada por mais um pequeno centro comercial, há largos anos.

"Quem não gosta do antigo? Mas os proprietários é que sabem...", reflecte, sem atribuir culpas, o presidente da Junta de Freguesia, João Seco Magalhães.

in Jornal de Notícias

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