22 setembro 2007

Cidades


Tashkent - Uzbequistão


Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das casas sobrepostas,
Os nadares vários da acumulação da vida…

Calaram o piano no terceiro andar…
Não oiço já passos no segundo andar…
No rés-do-chão o rádio está em silencio…

Vai tudo dormir…

Fico sozinho com o universo inteiro.
Nem quero ir a janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anti-citadino!...

Antes, recluso
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua…
Um automóvel – demasiado rápido! –
Os duplos passos em conversa falam-me…
O som de um portão que se fecha brusco dói-me…

Vai tudo dormir…

Só eu velo, sonolentamente escutando, …
Esperando
Qualquer coisa antes que durma…
Qualquer coisa…

Álvaro de Campos - Poesia - ed. Assírio e Alvim

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