04 abril 2006

Castelo de Almourol

Prédio Militar n.º 6. Nem mais, nem menos. Por muito estranho que possa parecer, é esta a denominação toponímica e cartográfica do Castelo de Almourol, conquistado por D. Afonso Henriques aos mouros e com histórias mil para contar. A explicação é simples. Afinal de contas, trata-se de uma propriedade do Exército português, inevitavelmente incluída nos roteiros turísticos nacionais e de além-fronteiras.

Lá para os lados de Tancos, entre Vila Nova da Barquinha e Constância, Almourol ergue-se do alto dos seus cerca de 310 metros de comprimento, 75 de largura e apenas 18 de altura. No meio das águas do Tejo, há séculos “plantado” num pequeno ilhéu, ocupa uma diminuta formação granítica literalmente a dividir as margens do rio e que desde sempre serviu como um ponto nevrálgico ao nível das manobras militares. Aliás, ainda hoje a Escola Prática de Engenharia de Tancos, proprietária daquele e de grande parte dos espaços envolventes, aqui realiza exercícios do seu ramo.

Apesar de classificado como monumento nacional desde 1910, esta construção secular depende há muito da teimosia de alguns, e do descuido de outros tantos, em conservar a memória deste guardião do Tejo.

Críticas à parte, o certo é que o cenário não deixa de ser romântico e idílico. Ao amanhecer, a paisagem mais parece retirada de um postal antigo, com aquela austera fortaleza envolta por suaves luzes matinais e por uma misteriosa bruma. À sua frente, junto às margens do rio, não falta sequer uma pachorrenta burra, de nome Bianca, a saborear as ervas rasteiras junto a uma construção em madeira, prometida como posto de turismo mas que acabou por ser um snack-bar... e eis que acordamos para a realidade! No artesanal e improvisado cais suspenso por bidons e por um bamboleante passadiço de madeira, entra-se num filme ao estilo de Emir Kusturica, em que um dos simpáticos “comandantes” destas chatas ou picaretes – embarcações tradicionais da região que transportam os visitantes até ao castelo – encarna uma imponente personagem de pele curtida pelo sol, com os pulsos cheios de pulseiras ornamentadas por dezenas de moedas pendentes.

A travessia faz-se em menos de dois minutos, mas pode prolongar a viagem por mais alguns instantes se pedir ao barqueiro para dar a volta a todo o ilhéu. Há, então, que lançar as amarras para pisar o palco de solenes e sangrentas batalhas históricas e até mesmo de uma recente telenovela brasileira, em que um dantesco vampiro assomou à imponente torre de menagem.

Mas cuidado; como já acima se referiu, longe vão os seus tempos de glória. Agora, e enquanto não se concretizar o prometido Parque de Almourol (um mega-projecto de capitais públicos e privados que quer criar ali e nas margens envolventes, de Vila Nova da Barquinha à Praia do Ribatejo, um pólo de lazer, desporto e cultura – ver o site), resta-nos percorrer o interior e o exterior do castelo, desviando-nos de ervas daninhas, mato selvagem na sua maioria e perigosas armadilhas. Vá, portanto, com atenção, e até pode ser que, no meio dos escondidos caminhos em cimento construídos pelos militares que já percorreram o local em jeito de circuito, descubra a entrada de um dos misteriosos túneis que, reza a historia contada de boca em boca, ligavam a ilha às margens.

Mantido pela Escola Prática de Engenharia de Tancos, uma ou outra beneficiação lá vai (foi?) sendo feita. É o caso da iluminação nocturna do castelo, levada a cabo em Abril de 1988, dez longos anos após o início do projecto. Seguiram-se-lhe outras alterações, como por exemplo a plataforma de madeira servida por uma íngreme escada e que dá acesso à torre de menagem. Dali do alto poderá avistar não só a ruína do abandonado e secular Convento do Loreto, mandado edificar na margem direita do rio, em 1572, por D. Álvaro Coutinho, um dos muitos senhores de Almourol, como também toda a paisagem que se espraia curso acima e arredores. O alcance da vista é fantástico, explicando-se assim o porquê da sua intensiva utilização militar ao longo dos séculos.

Texto de Miguel Satúrio Pires,
Revista Rotas e Destinos



Castelo de Almourol, Portugal



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