Astana é o nome da nova capital do Cazaquistão. Outros países já construíram capitais futuristas, noutros tempos, Brasília por exemplo, e outras cidades tiveram construções febris, mas planeadas, tal como no Dubai ou mesmo a capital imperial que mandava no Cazaquistão – Moscovo.
Mas, nenhuma almejou ser tão grandiosa como Astana, nem criar uma capital, e ao mesmo tempo, uma identidade nacional moldada sobretudo num único homem:
Nursultan A. Nazarbayev – o presidente do Cazaquistão desde a sua independência.
Inúmeros edifícios altamente caros e sumptuosos estão a ser construídos.
Claro que nem tudo é pacífico nesta utopia megalómana de fundar uma nova capital, Astana, no centro das estepes, em detrimento de Almaty, esta junto da fronteira com a China e muito mais cosmopolita. Então, o presidente do Cazaquistão invocou as razões de Pedro o Grande em mover a capital da Rússia para S. Petersburgo, e as de Ataturk que moveu Istambul para Ankara. O próprio nome foi escolhido: Astana significa capital.
A cidade está a ser pensada de forma a crescer significativamente por forma a atingir um milhão de habitantes, em 2030, contra os 600 mil actuais. Mais de 7 milhões de euros já foram investidos, com mais biliões a caminho, inequivocamente.
Sublinhe-se que esta majestosa cidade também terá gigantescos espaços verdes, o que é sem dúvida de louvar. Claro que no projecto trabalham arquitectos famosos de todo o mundo. A planta inicial foi criada por um japonês, embora outros a tenham melhorado e completado.
Existe uma pirâmide com elevadores nas arestas, que quando finalizada terá teatros, um parque aquático e jardins suspensos, imitando nada mais que os Jardins da Babilónia… No centro da cidade será construída uma torre imensa, de vidros azuis e em forma de bala, que simbolizará o chapéu tradicional do Cazaquistão.
Será erguida a maior torre da Ásia central, torre essa que o presidente só conhecerá aquando da sua inauguração. Inesquecível é a mão do presidente, esculpida num triângulo de prata e ouro no seu palácio. Diz-se que quem lá puser a mão, terá sorte e prosperidade.
Não falta também um estádio novinho em folha, que deslocou inúmeras famílias para outras paragens. Os edifícios são tão futuristas e bizarros que os habitantes locais já os baptizam com alcunhas. Um chama-se mesmo Titanic, que era tão pesado que as próprias fundações não aguentaram e abriu-se uma brecha imensa.
Prevista está também a construção de uma universidade fortíssima, que segundo o presidente, será a Oxford ou a Harvard da Ásia Central.
É sem dúvida uma ideia, embora não sendo ímpar, fruto da ambição de um presidente com sonhos faraónicos que podem endividar o país, onde a oposição simplesmente é abafada. Ninguém sabe o que o futuro reserva a esta cidade e ao próprio país, mas projectos gigantescos quem não os teve?
No cinema, um inglês goza com este país, embora o reino unido tenha uma história recheada de coisas inúteis, vaidosas e recordistas: Titanic, Queen Mary II, Estádio do Wembley, etc.
Nós, fizemos recentemente uma expo e dez estádios, sem os retornos esperados, se é que alguma vez o foram.
Se me disserem que este presidente do Cazaquistão é um ditador louco, com a ideia de fazer uma metrópole mundial à custa de um país em que a população vive mal, aceito. De qualquer forma, quer se fale bem ou mal de Astana, sempre se falará e isso atrai as pessoas e o investimento. É pura publicidade.
Contudo, em Portugal, temos um governo com a máscara da democracia, que vai referendar a lei do aborto, que usa e abusa da legitimidade obtida na maioria absoluta, e que, num tique nervoso, quer impor o comboio de alta velocidade caríssimo e desnecessário, além do aeroporto nos terrenos da Ota, faraónico (lembram-se do de Macau?), a um povo obrigado a recuperar o país. As diferenças, daqui para o Cazaquistão, se existem, são muito ténues, no que respeita à fase de idealização dos projectos. Mas se compararmos as vantagens e desvantagens em ambos os casos, aí é que já são contas de outro rosário.
Portugal embora precise, não gosta de apertar o cinto, prefere apertar a forca… muito devagarinho.
06 dezembro 2006
vento na estepe
Posted by Francisco Rodrigues at 21:12
Labels: Astana, Cazaquistão, Ota, TGV
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4 comentários:
Realmente se eu não soubesse qual o país e me contassem a história, diria que era em Portugal - o país dos megalómanos.
No entanto, há tiranos ainda piores. Impressionante. Aposto que 20% da população está desempregada, 90% não tem electricidade nem saneamento básico e o país tem uma percentagem de 60% de analfabetos. Estou mesmo a ver a cidade muito bonita mas cheia de favelas à volta e com um alto índice de criminalidade. Tipo Brasília. Esta história faz lembrar uma percentagem da nossa população que tem boas roupas e bons carros, mas passa fome e deve dinheiro a toda a gente.
Um país constrói-se primeiro com a educação do seu povo. Um país nunca é pobre enquanto tiver mentes ricas.
Acho que o Pedro disse tudo.
E quando dizes que nunca nenhuma cidade almejou ser tão grandiosa como Altana digo-te para ires ver imagens de S. Petersburgo.
Claro, mas S. Petersburgo foi capital de um império. Tem que se salvaguardar algumas porporções e o que se passa é que Astana está a ser construida porque o presidente quer. Ele quer e manda.
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