Fernado Ribeiro é o líder dos Moonspell, banda de ‘heavy metal’ que já vendeu 600mil discos em todo o mundo. Vem da Brandoa, estudou Filosofia e escreve livros de poemas. Diz que o seu lema é fazer com que as coisas aconteçam.
Aos 20 anos (…) dava explicações de Filosofia, o curso que frequentava na Faculdade de Letras, em Lisboa, depois de ter abandonado outra paixão: a Historia. Mostra-se orgulhoso por esse período de trabalhador/estudante: “Inventei a explicação ao domicílio e conseguia tirar, de vez em quando, 50 a 80 contos por mês”.
Os projectos para uma banda a sério começaram em 1989 com os Morbid God. Três anos depois (…) nasciam os Moonspell: “Havia coisas dentro de nós absorvidas de outras bandas, de livros, de conversas que queríamos transformar em músicas de ‘heavy metal’. Não estávamos muito interessados em saber se as pessoas gostavam ou não”, lembra este estudante de Filosofia que nunca terminou o curso. Às tantas teve que trocar os estudos pelas constantes digressões da banda: Estados Unidos, México, Alemanha. O som que criavam valeu-lhes três ordens de despejo da Câmara Municipal da Amadora, mas alguns anos depois a mesma autarquia concedeu-lhes uma medalha de prata de mérito cultural. Com ou sem distinção das autoridades municipais, dificilmente o músico deixaria de afirmar as suas raízes: “Podes tirar um homem da Brandoa, mas não podes tirar a Brandoa de um homem. Tenho necessidade, e admito que talvez seja uma coisa suburbana, de legitimar as minhas origens.” (…)
Do historial da banda, Fernando destaca o projecto de 1999, ‘Butterfly Effect’: “Gosto de o ouvir. Foi o álbum que vendeu pior e vivemos uma fase negra. Pagámos as nossas contas todas e ficamos com 150 euros para o resto do mês. Dou importância às pessoas que sobrevivem com pouco, porque já vivi assim.” (...)
Todos os discos dos Moonspell estão distribuídos e licenciados a nível mundial. Há países, como os da Europa do Leste, onde as vendas só agora começam a ser contabilizadas. A agenda da banda levou-a a actuar perante 3500 pessoas no México ou 2000 na Rússia, mas o máximo foi alcançado no festival Dínamo Open Air, de 1997, com audiência de 60000 espectadores. Por cá, o recorde foi atingido na última sessão do Rock in Rio. À hora que tocaram, a organização contabilizou 45000 pessoas. Os Moonspell já atingiram a barreira dos 600 mil discos vendidos. Em Portugal, cada disco da banda vende em média, no mínimo, 10 mil exemplares. Não chega para ficar rico, nem é esse o objectivo, garante Fernando Ribeiro: “Esta é uma banda de grandes investimentos, os instrumentos são caros. Equivalo-me a qualquer trabalhador: quero ganhar mais, quero ter melhores condições de trabalho.” Para isso há que mostrar valor: “No mundo das artes, diz-se não temos nada a provar a ninguém. É uma mentira confortável, acabas sempre por ter de provar. Se não perdes a pertinência do teu trabalho. A banda da qual já se disse que tirou o ‘metal’ do gueto terminou recentemente uma digressão no Estados Unidos e já está numa ‘tourné’ europeia que a vai levar a Itália, Hungria, República Checa, Alemanha, França e Inglaterra. Em termos logísticos, a viagem pela América não correu bem: “metemo-nos com gente horrível, profissional e pessoalmente.” Serviu, mais uma vez, de aprendizagem, mas também para lembrar que, em certas ocasiões, nascer em Portugal pode ser bom: “Tivemos de andar todos os dias a remendar. Ser português é uma vantagem, é impressionante desenrascanço.”
Fernando Ribeiro, adepto do FC Porto, é um defensor acérrimo dos direitos de autor, vai votar “sim” no referendo sobre o aborto e ataca as classes dirigentes: “Tenho um grande problema com as elites portuguesas, acho que tivemos muito azar com as nossas elites. Muito azar. Estimula-se o ‘statu quo’, a mordomia, a cunha.” Situa-se à esquerda e tece elogios aos comunistas: “O PCP é um partido de trabalho. Vê-se pela quantidade de propostas apresentadas. Nesse aspecto, penso que é um partido exemplar em Portugal.” Mas não deixa de apontar o dedo: “Há uma coisa que une os políticos, a incapacidade de fazer as coisas acontecer. A democracia portuguesa é uma grande desilusão. Somos um país pequeno, inteligente e com potencial. E países assim deveriam ser mais fáceis de governar, mas não.” Pessimista? “Realista”, responde ele, atirando rapidamente com mais uma máxima: “Acredito mais em mudar as pessoas do que em mudar o mundo.”
Arruma a cadeira antes de sair do café onde se encontrou com a nossa NS’, despede-se dos empregados, veste o casaco preto, volta a colocar os auscultadores e encaminha-se para a saída, talvez a ouvir Depeche Mode, uma das suas bandas de eleição, por estranho que pareça. Vai para casa, talvez terminar mais um livro de poemas. Do primeiro “Como Escavar Um Abismo”, de 2001, fica o final do ‘Poema d’Amoniaco’, em jeito de confissão:
Aos 20 anos (…) dava explicações de Filosofia, o curso que frequentava na Faculdade de Letras, em Lisboa, depois de ter abandonado outra paixão: a Historia. Mostra-se orgulhoso por esse período de trabalhador/estudante: “Inventei a explicação ao domicílio e conseguia tirar, de vez em quando, 50 a 80 contos por mês”.
Os projectos para uma banda a sério começaram em 1989 com os Morbid God. Três anos depois (…) nasciam os Moonspell: “Havia coisas dentro de nós absorvidas de outras bandas, de livros, de conversas que queríamos transformar em músicas de ‘heavy metal’. Não estávamos muito interessados em saber se as pessoas gostavam ou não”, lembra este estudante de Filosofia que nunca terminou o curso. Às tantas teve que trocar os estudos pelas constantes digressões da banda: Estados Unidos, México, Alemanha. O som que criavam valeu-lhes três ordens de despejo da Câmara Municipal da Amadora, mas alguns anos depois a mesma autarquia concedeu-lhes uma medalha de prata de mérito cultural. Com ou sem distinção das autoridades municipais, dificilmente o músico deixaria de afirmar as suas raízes: “Podes tirar um homem da Brandoa, mas não podes tirar a Brandoa de um homem. Tenho necessidade, e admito que talvez seja uma coisa suburbana, de legitimar as minhas origens.” (…)
Do historial da banda, Fernando destaca o projecto de 1999, ‘Butterfly Effect’: “Gosto de o ouvir. Foi o álbum que vendeu pior e vivemos uma fase negra. Pagámos as nossas contas todas e ficamos com 150 euros para o resto do mês. Dou importância às pessoas que sobrevivem com pouco, porque já vivi assim.” (...)
Todos os discos dos Moonspell estão distribuídos e licenciados a nível mundial. Há países, como os da Europa do Leste, onde as vendas só agora começam a ser contabilizadas. A agenda da banda levou-a a actuar perante 3500 pessoas no México ou 2000 na Rússia, mas o máximo foi alcançado no festival Dínamo Open Air, de 1997, com audiência de 60000 espectadores. Por cá, o recorde foi atingido na última sessão do Rock in Rio. À hora que tocaram, a organização contabilizou 45000 pessoas. Os Moonspell já atingiram a barreira dos 600 mil discos vendidos. Em Portugal, cada disco da banda vende em média, no mínimo, 10 mil exemplares. Não chega para ficar rico, nem é esse o objectivo, garante Fernando Ribeiro: “Esta é uma banda de grandes investimentos, os instrumentos são caros. Equivalo-me a qualquer trabalhador: quero ganhar mais, quero ter melhores condições de trabalho.” Para isso há que mostrar valor: “No mundo das artes, diz-se não temos nada a provar a ninguém. É uma mentira confortável, acabas sempre por ter de provar. Se não perdes a pertinência do teu trabalho. A banda da qual já se disse que tirou o ‘metal’ do gueto terminou recentemente uma digressão no Estados Unidos e já está numa ‘tourné’ europeia que a vai levar a Itália, Hungria, República Checa, Alemanha, França e Inglaterra. Em termos logísticos, a viagem pela América não correu bem: “metemo-nos com gente horrível, profissional e pessoalmente.” Serviu, mais uma vez, de aprendizagem, mas também para lembrar que, em certas ocasiões, nascer em Portugal pode ser bom: “Tivemos de andar todos os dias a remendar. Ser português é uma vantagem, é impressionante desenrascanço.”
Fernando Ribeiro, adepto do FC Porto, é um defensor acérrimo dos direitos de autor, vai votar “sim” no referendo sobre o aborto e ataca as classes dirigentes: “Tenho um grande problema com as elites portuguesas, acho que tivemos muito azar com as nossas elites. Muito azar. Estimula-se o ‘statu quo’, a mordomia, a cunha.” Situa-se à esquerda e tece elogios aos comunistas: “O PCP é um partido de trabalho. Vê-se pela quantidade de propostas apresentadas. Nesse aspecto, penso que é um partido exemplar em Portugal.” Mas não deixa de apontar o dedo: “Há uma coisa que une os políticos, a incapacidade de fazer as coisas acontecer. A democracia portuguesa é uma grande desilusão. Somos um país pequeno, inteligente e com potencial. E países assim deveriam ser mais fáceis de governar, mas não.” Pessimista? “Realista”, responde ele, atirando rapidamente com mais uma máxima: “Acredito mais em mudar as pessoas do que em mudar o mundo.”
Arruma a cadeira antes de sair do café onde se encontrou com a nossa NS’, despede-se dos empregados, veste o casaco preto, volta a colocar os auscultadores e encaminha-se para a saída, talvez a ouvir Depeche Mode, uma das suas bandas de eleição, por estranho que pareça. Vai para casa, talvez terminar mais um livro de poemas. Do primeiro “Como Escavar Um Abismo”, de 2001, fica o final do ‘Poema d’Amoniaco’, em jeito de confissão:
“Apetece-me o labirinto.
A morte.
A descida.
Apetece-me ser Demónio.
Dispensar toda
E qualquer espécie
De Vida.”
excertos de uma entrevista à NS', Jornal de Notícias, 27 Janeiro 2007
3 comentários:
Adorei ler a entrevista. É um Senhor. Especialmente a parte de arrumar a cadeira antes de sair do café...
Para próxima eu prometo por aqui uma entrevista do Valentim Loureiro, ou do Avelino Ferreiro Torres....
Com aquele aspecto ninguém diria que fala tão bem:)
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