13 junho 2007

Alentejo: estilo de morte


Uma mulher de 51 anos, residente a 500 metros das Urgências do Centro de Saúde de Vendas Novas, que o Governo encerrou no final de Maio, morreu ontem a caminho do Hospital de Évora devido a paragem cardio-respiratória. Os bombeiros, obrigados por ordens superiores a transportar a mulher para esta unidade, a 52 quilómetros, tentaram várias manobras de reanimação mas Maria José Mesquita entrou cadáver no hospital, uma hora após ter sido dado o alerta. [...]

MINISTRO NÃO COMENTA CASO

Questionado pelo CM sobre o caso da morte da mulher de Vendas Novas, o ministro da Saúde, Correia de Campos, escusou-se a fazer “qualquer comentário” alegando “desconhecer” a situação. No entanto, lembrou que os SAP só têm um médico de serviço e se estivesse a funcionar não havia garantias de que a vítima não morreria. Sobre a decisão do tribunal, que ordenou a reabertura do SAP daquela cidade, Correia de Campos disse em Viseu que o Ministério da Saúde vai, “como sempre”, respeitar as decisões judiciais. “

O ministério teve cinco dias para fazer o contraditório à decisão judicial. Entregámo-lo ontem [segunda-feira] e vamos aguardar”, adiantou.

CRÍTICAS DESMOTIVAM BOMBEIROS

Os bombeiros são o alvo mais fácil de famílias, amigos e vizinhos de pessoas que têm sido vítimas, por diversos motivos, da reforma das Urgências. “Somos criticados porque não levamos logo os utentes para o hospital ou porque não prestamos assistência no local. A maioria não entende que somos obrigados a transportar ou a assistir as vítimas de acordo com a instruções que recebemos”, frisou o comandante dos Bombeiros de Vendas Novas, José Verdelho.

“Por mim até levava os utentes para o Hospital de Setúbal, que tem auto-estrada até à porta, mas as ordens são para ir para Évora”, acrescentou. Ontem, quando prestavam auxílio à Maria José, os bombeiros tiveram de abandonar à pressa o local devido à pressão exercida pelos moradores. “Até deixaram material na rua. Qualquer dia começamos a chamar a GNR para garantir a nossa segurança”, frisou.

José Verdelho diz que os bombeiros são os que mais sofrem com as medidas do Governo. “Estão a ficar desmotivados porque as pessoas dizem coisas injustas. Muitos elementos das corporações deviam ter ajuda psicológica”, salientou o comandante.

SAIBA MAIS

20.000 As Urgências do Centro de Saúde de Vendas Novas serviam 20 mil residentes deste concelho e das freguesias de concelhos vizinhos, como Cabrela (Montemor) e Pégões (Montijo).

70 Os habitantes da Landeira, localidade do concelho de Vendas Novas, que faz fronteira com os de Alcácer do Sal e Setúbal, estão a 70 quilómetros do Hospital de Évora.

HORÁRIO

Com o fecho do SAP em Vendas Novas, entrou em vigor um novo modelo de funcionamento, com consultas programadas entre as 08h00 e as 22h00.

TRIBUNAL

O presidente da Câmara de Vendas Novas, José Figueira, admitiu ontem recorrer de novo aos tribunais para obrigar o Governo a reabrir as Urgências.

MARINHA GRANDE

A junta local reclamou ontem um horário de atendimento de 24 horas mesmo que o SAP venha a ser encerrado.

in Correio da Manhã



São várias as notícias de casos semelhantes no Alentejo. Se as urgências fecham, pelo menos o governo tem a obrigação de disponibilizar mais viaturas rápidas do INEM, num serviço de assistência que deveria funcionar e estar bem planeado. Toda a gente sabe que o Alentejo é imenso e, adoecer lá actualmente, é muito arriscado.

2 comentários:

koolricky disse...

Em vez de cortar nas reformas chorudas de depoutados, presidentes de bancos de portugal, e tachos afins cortam nas urgências e depois é o que se vê. Cada vez mais, um terceiro mundo.

Francisco Rodrigues disse...

O que é certo é que o tribunal ordenou a reabertura do centro de saude de Vendas Novas. Grande sapo engolido pelo ministro da saúde.