03 abril 2008

Cheque ensino ou o ensino a "cheque"?!?

Esta noite, ao ouvir Diogo Feio, do CDS, a falar na SicNoticias lembrei-me de um "post" que li no Avenida Central por Pedro Romano: Fundamentalismo da Escolha. Ambos defendem o cheque-ensino.

O cheque-ensino consiste num suposto "cheque" que é "entregue" a todos os pais e que lhes permite escolher a escola que querem que o filho frequente. Assim os pais podem escolher a escola que melhor se adequa ao modelo de ensino que pretendem para o seu filho. As escolas receberão o seu financiamento baseado no número de "cheques" recebidos.

A primeira impressão é sem dúvida positiva. No alto dos nossos "castelos" só podemos concordar com esta medida. A criança passa a frequentar, não a escola mais próxima da sua residência ou do local de trabalho dos pais, mas sim aquela que os pais entendem ser a melhor.

O problema surge quando ligamos a televisão ou usamos binóculos para ver o que acontece lá longe, onde os alunos batem nos professores, onde os pais não querem saber dos filhos, onde o almoço da cantina é a única refeição quente no estômago da criança, onde o banho no final da educação física é o único que se toma, onde lavar as mão e os dentes é uma novidade que se aprende na escola... Quem escolhe por estes alunos? Onde serão eles colocados? Numa escola do Cerco? Numa Cova da Moura? E quando essas ficarem cheias? Na escola do nosso bairro, agora vazia porque nós levamos os nossos para outra?

Calma?!?!?! Se vão para a escola do nosso bairro depois, vão sair em bando e passar à nossa porta? Ui, vão invadir o nosso "muro", vão entrar no nosso castelo... E ai? Que fazemos nós? Já sei: chamamos a polícia... Sim, aquela que não entra na Cova da Moura senão morre...

Não pensem que me oponho ao cheque-ensino porque sou contra o elitismo ou o ataque à "classe trabalhadora" que tanto se protege à esquerda... A mim o que me preocupa é que qualquer estudo politico/sociológico mostra que a segregação não resolve nada, só piora. Em Lisboa a Cova da Moura era o tal lugar lá longe onde se colocava "o pobre", hoje a cidade cresceu e é aquele PROBLEMA cá dentro que a todos assusta...

Sou um defensor da meritocracia e do ensino público de qualidade. Mas a questão do cheque ensino levanta-me algumas questões:
Como são os alunos seleccionados? Por mérito? Só por mérito?
Como se define critérios de mérito no primeiro nível de ensino? (podendo esses condicionar os seguintes)
O que acontece ao aluno que não consegue entrar na escola que pretende?
Quem vai dar aulas para a escola dos que sobram?

6 comentários:

Francisco Rodrigues disse...

Quando a sociedade portuguesa se aperceber da importância da educação, estaremos salvos. Por enquanto, miramos o abismo.

koolricky disse...

Era bom era se o cheque ensino fosse feito para os alunos que querem ir para a universidade e cujos pais (que pagam impostos) não têm dinheiro para lhes dar semelhante regalia!

NA disse...

Sim, mas ai estamos a falar de um nível de ensino diferente. Não estamos a falar do ensino obrigatório. A medida que propões iria contribuir para levar para a Universidade alunos que actualmente são excluídos por falta de verba. Felizmente, estes são cada vez menos...

Francisco Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Francisco Rodrigues disse...

Ainda hoje veio no Jn uma frase do cardeal patriarca de Lisboa que dizia o seguinte, e de cor: "fazem mais falta à sociedade no futuro os professores que os políticos." Reafirmo que a sociedade deve olhar para a educação com outros olhos, e não apenas sob o olhar do jornalismo momentâneo.

NA disse...

Esse é outro problema, o caso "Carolina Michaelis" despertou o mediatismo para a Educação. Bom, muito bom... Chama a atenção para o problema, mas já sabemos que tudo isto vai para o caixote do esquecimento assim que uma Madie desapareceu, o Porto ganhar o campeonato, ou qualquer outra notícia fizer vender mais jornais...