30 maio 2008

O Sonho


"Eu sonhava que tinha entrado no corpo de um suíno, do qual não me era fácil sair, e que chafurdava os pêlos nos lodaçais mais imundos. Seria como recompensa? Tal como desejara, já não pertencia à Humanidade! Por mim, entendi assim a interpretação do sonho e senti com isso uma alegria mais que profunda. A metamorfose nunca surgiu a meus olhos senão como a alta e magnânime ressonância de uma felicidade perfeita, que há muito esperava. Tinha chegado o dia em que eu finalmente era um suíno! Experimentava os dentes nas cascas das árvores... O meu focinho: contemplava-o com delícia. Já não me restava a mínima parcela de divindade! Consegui elevar a minha alma até à excessiva altura desta inefável volúpia... [...]"

in Cantos de Maldoror (Mão Morta), adaptado por Adolfo Luxúria Canibal, a partir do texto original de Isidore Ducasse.

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