23 novembro 2008

Albas [I]


Da Torre de Dona Chama


Agora venho acordando às duas, às quatro, às seis da manhã, invadido por sombras. A do Toni, as dos grandes suicidas da literatura portuguesa (e das outras): Antero de Quental que meteu duas balas no palato; a do Mário de Sá Carneiro que se envenenou num quarto de hotel, em Paris; a de Florbela Espanca que se excedeu, numa dose de barbitúricos; a do Manuel Laranjeira, amigo do grande escritor espanhol Miguel de Unamuno, que também se matou; a do Soares dos Reis, talvez o melhor dos escultores portugueses, que pôs termo à vida no Porto. Cheina, há qualquer coisa em tudo isto que não está bem e eu não consigo descobrir o que é. A nossa tia Bina já tem 90 anos. Que longa vida! E se ela não for para o céu, dizem na Torre, ninguém irá.
Continuo a piscar o olho à vida, como há 50 anos, a mandá-la malcriadamente pro...
Não desistirei de a insultar, mas num estilo que nos honre a todos.
Albas - Sebastião Alba