"[...]No retalho da encosta vindimada o luar avolumava a tristeza das videiras sem uvas. As vides erguiam para o céu as varas vazias, desfolhadas, como num protesto. A terra pisada e babada de sumo tinha também um ar violado e descomposto. Ao lado do talhão que se seguia, inteiro, túmido e fechado, quase todo de bastardo e com bagos unidos e perfumados, o que ficara colhido parecia um bocado maldito do mundo por onde a desgraça passara. À medida que as navalhas avançavam, as vinhas iam perdendo a graça, a força e a virgindade. E com esta desolação morria também um pouco da alegria dos vindimadores, que chegavam da Montanha sem sono, a cantar e a dançar, e que agora dormiam como lages.[...]"
Vindima - Miguel Torga11 março 2007
Vindima
Posted by Francisco Rodrigues at 08:48
Labels: alto douro, literatura, miguel torga, tras-os-montes, vindima
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4 comentários:
Lindo!
Lindo Douro!
Estou a ler este livro do Miguel Torga, Vindima. Li este parágrafo ainda, podemos considerar, no início do romance. Achei extraordinárias estas palavras do poeta da montanha, por isso o post.
Lindo.
O Miguel está entre os melhores de Portugal.
É nestes interlúdios que dá gosto ser português.
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