09 julho 2007

Maravilhas



Não vi o espectáculo. Mas em relação às maravilhas de Portugal, faz-me confusão ver uma lista apenas de edificios, ignorando por completo espaços naturais como o Parque Nacional Peneda-Gerês e o Pinhal de Leiria. Uma vergonha. Terá sido um show para meia duzia de ilustres aparecerem. O património existe, deve ser estudado, visitado, conservado e difundido. No capítulo da conservação, não sei até que ponto esta fantochada contribuirá, tanto no mundo como em Portugal. Eleger maravilhas é desprezar outros monumentos/espaços?

Confuso também é ver o norte do país, onde tudo começou para Portugal, apenas com um monumento, o Castelo de Guimarães, remodelado, embora com grande importância histórica.
Entristece-me que uma cidade bi-milenar como Braga, que teve um monstro da arquitectura portuguesa chamado André Soares, não constasse na lista de 21 finalistas. O que tem a Torre dos Clérigos de especial, comparada com a Igreja de Santa Maria Madalena da Falperra, ou o conjunto escadório-elevador-mosteiro do Bom-Jesus, extremamente conhecido no Brasil, por exemplo? Ou mesmo comparada com a Igreja de N. Sra. da Consolação e Santos Passos, mais conhecida por Igreja de São Gualter, em Guimarães, obra do mesmo arquitecto bracarense. Ou mesmo o Mosteiro de São Miguel de Refojos, em Cabeceiras de Basto? O extenso e valiosíssimo curriculo deste arquitecto bracarense, português, jamais poderia ter sido desprezado desta forma. Favorecida foi a obra de um arquitecto italiano, o Nasoni, com a Torre dos Clérigos e a Casa de Mateus na lista finalista. A Casa de Mateus, até me alegrou, já que foi um monumento em representação do interior de Portugal, completamente esquecido. Uma vergonha. Maravilha é a vila de Castro Laboreiro, ou Pitões das Júnias, ou os Espigueiros do Soajo, enfim... a lista tinha que ser mediática e localizada no litoral, para o parolo votar e assistir ao espectáculo. As excepções, nos 21 finalistas, foram o Palácio de Vila Viçosa, a Casa de Mateus, o Templo de Évora e o Castelo de Marvão.

Quanto às maravilhas do mundo, seria óptimo que acabassem com as guerras por causa do petróleo, que acabassem com a fome em África e acabassem com o aquecimento global, bem como muitos outros crimes ecológicos.

adenda: alguém consegue encontrar no site do IPARR a igreja da imagem apresentada acima?

23 comentários:

koolricky disse...

Chico, creio que a listas das maravilhas se limitava a obras feitas pelo Homem.

Francisco Rodrigues disse...

Exacto, mas isso está mal. Sa ideias principais que eu queria mostrar era saber até que ponto estas votações irão contribuir para a preservação dos monumentos eleitos, bem como a completa indiferença da obra de André Soares, a qual venero, além de se tratar de um arquitecto português.

Alter Ego disse...

Meu caro,

Começo pelo fim: ninguém encontrará a igreja da Madalena da Falperra na página do IPPAR por uma razão simples - a lista de património do IPPAR apenas contempla o património classificado, o que deixa de fora a da Falperra e tantas outras. Bem melhor é o inventário da DGEMN (www.monumento.pt), mas há muito que não lhe consigo aceder. A propósito daquela igreja há uma disputa territorial entre Braga e Guimarães, o que, se calhar, ajuda a perceber por que razão ainda não está classificada.

Quanto às 7 "maravilhas" tem razão. É uma fantochada, não tem nada de científico, nem de rigoroso, sendo apenas uma construção mediática, carregada de lacunas imperdoáveis. Todos os monumentos que constam da lista nacional são discutíveis. Menos o Castelo de Guimarães, mais pela sua dimensão simbólica do que pela sua monumentalidade em sentido estrito. A sua presença é tão natural como o seria a Serra da Estrela se lista se referi-se aos sete pontos mais altos de Portugal.

Pela mesma razão, a Torre dos Clérigos, enquanto ex-libris do Porto e marca do barroco português encontra-se, seguramente, entre os mais destacados monumentos nacionais. Achar que as igrejas da Falperra ou de S. Gualter, em Guimarães, lhe poderiam tirar o lugar, é um exagero óbvio, fruto, talvez, de alguma miopia bairrista.

Alter Ego disse...

corrigenda:

em vez de "referi-se", deve ler-se, "referisse".
Mil perdões

Francisco Rodrigues disse...

A torre dos clérigos, é um ex-libris do porto, sem dúvida, mas além e ser desenhada por um italiano, é uma marca do barroco português? Não me parece. O expoente máximo do barroco português tem dois nomes, garantidamente: Braga e André Soares.

Alter Ego disse...
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Tiago Laranjeiro disse...

Francisco, vamos lá...

A Torre dos Clérigos é, sem qualquer dúvida, um marco do barroco em Portugal, deixado pelo grande Nasoni. Aliás, André Soares teria apenas onze anos quando se iniciou a construção da igreja, torre e enfermaria da Irmandade dos Clérigos (segundo informações que vi na Wikipedia) ou o magnífico Palácio de Mateus. E Nasoni parece ter apenas projectado edifícios para Portugal, à excepção de uns poucos em Malta. Era um italiano bem português.

André Soares deixou importante obra, sem dúvida, que não pode ser ignorada. A (vimaranense) capela da Falperra é lindíssima, sem dúvida, mas não tem a majestade de uns Clérigos ou da talha da Igreja de S. Francisco do Porto (e também existe a de Guimarães, que é, na minha opinião, o mais belo templo vimaranense).

Ah, e se tu dizes que o Castelo foi remodelado (o que quer que isso signifique, pois nenhum edifício utilitário que sobreviva ao passar dos anos permanece estático no seu traçado "original"), então o que dizer da Igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos? Corpo desenhado por André Soares, capela-mor construída com pedra da muralha dos antigos Palheiros, torres do risco de Pedro Ferreira (construídas um século depois da obra do brácaro Soares).

Ah, e também não sei quando é que lá foram postos aqueles horríveis azulejos que cobrem a fachada principal, que mais parecem feitos para decorar o tasco de uma qualquer Casa do Povo de meados do século XX por esse país fora do que para uma casa de oração...

Já agora, Francisco, dado que tu e o bragantino Pedro Morgado falam muito dessa mesma Igreja, conhecida também por de S. Gualter, aqui ficam duas hiperligações. É só copiar e colar, que eu estou com muita preguiça para estar a acrescentar código HTML ao meu comentário...

http://www.csarmento.uminho.pt/pop_up_view_img.asp?path=imgs/nephl/fototeca/fototeca&imageName=Campo-da-Feira-1858.jpg&table=nephl_fototeca&filter=Patrim%F3nio&fieldID=ID&fieldsToShow=imagem|suporte|assunto|descricao|data|fonte&titlesToShow=Imagem|Suporte|Assunto|Descri%E7%E3o|Data|Fonte&ID=336&navigation=yes&w=159&h=90
http://www.csarmento.uminho.pt/docs/ndat/pcaldas/PCaldas015.pdf
http://www.csarmento.uminho.pt/imgs/nephl/fototeca/fototeca/fotos/GPP063b.jpg?id=01

Alter Ego disse...

Ter sido desenhada por um italiano, significa que não é obra portuguesa? Já agora, Mafra foi desenhada por um português? E a ponte Maria Pia, do Porto (uma das lacunas gritantes na lista das "maravilhas"), afinal, é um monumento estrangeiro?

Não negarei a relevância de Braga Barroca, mas é curioso que, das três obras que indica apenas uma seja, supostamente (há dúvidas) do concelho de Braga.

Quanto ao mais, se é indubitável que o arquitecto bracarense André Soares é figura incontornável do Barroco no norte de Portugal, não é líquido que o Mosteiro de Refojos, seja obra sua e a igreja de S. Gualter, de Guimarães, cujo traço original (apenas do exterior) lhe pertence, em grande parte só foi construída muito depois da sua morte. As torres que dominam a fachada, por exemplo, são obra de um arquitecto portuense, Pedro Ferreira, que as desenhou em 1860, tornando a fachada muito desproporcionada em relação ao que seria o seu desenho original. Portanto, ali pouco André Soares se vê, infelizmente.

Tiago Laranjeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
koolricky disse...

Não disputo as opiniões aqui expressas. Mas nomear 23 monumentos e esquecer-se do elevador do Bom Jesus, uma obra de beleza, arquitectura, engenharia e progresso geniais é uma lacuna quase tão grande como a falta do Aqueduto de Lisboa na lista. Mas, enfim, são programas para o povinho ver, para votar e para ver a Jennifer Lopez quase a mostrar os seios, porque sem ela, não via, o programa metade das pessoas...
Quanto à situação da Igreja de Santa Marta é simples. Faz parte do concelho de Guimarães (distrito de Braga) mas faz parte do triângulo turístico de Braga, como determinou o cabido bracarense, a organisação que fez a obra antes de haver qualquer divisão administrativa no local.

Francisco Rodrigues disse...

Eu sei perfeitamente que as torres da capela de Sao Gualter foram acrescentadas por um arquitecto portuense depois da morte de André Soares. Também sei que não é 100% líquida a atribuição do mosteiro de refojos a andré soares, mas não é preciso perceber muito de arquitectura para chegar a algumas conclusões. Seja como for, e parece-me que se discute mais o simbolismo que o traço, a minha devoção na obra de André Soares continua inabalável e dela dei apenas 3 exemplos, dois dos quais nem sequer são bracarenses. Mas a arquitectura, a simetria e a beleza não peneiram riscos concelhios; André Soares não trabalhou só em Braga, Nasoni não desenhou só no Porto... Lembro-me, e basta confirmar no site do IPPAR, que as torres da Basílica dos Congregados, ficaram mais de 100 anos por terminar. Quem as concluiu, baseou-se, quase fazendo uma cópia, do mosteiro de São Miguel de Refojos (Cabeceiras de Basto). A capela de Santa Marta da Falperra é vimaranense? Óptimo, não é por isso que deixa de ser belíssima, bem como a estátua de Santa Maria Madalena que segura uma caveira, majestosamente riscada por André Soares e que se encontra na escadaria.

Alter Ego disse...

Tem absoluta razão. O Elevador do Bom Jesus é magnífico. Só que, no critério do Francisco Rodrigues, não serve para "maravilha". É que o engenheiro que o concebeu não era bracarense, era suíço, um tal Niklaus Riggenbach.

Francisco Rodrigues disse...

Em relação à Basílica dos Congregados, e sem preguiça de disponibilizar o link:

"As torres que ladeiam a fachada são posteriores à intervenção de André Soares, pois não chegaram a ser terminadas. A sua conclusão ocorreu apenas no século XX, tomando como modelo as da Igreja de São Miguel de Refóios, em Cabeceiras de Basto (SMITH, 1973, p. 55)."

Alter Ego disse...

Confesso que, para mim, não faz diferença nenhuma que Santa Madalena seja em terras de Guimarães ou de Braga: esteja num concelho, esteja no outro, percorro exactamente a mesma distância que sempre percorri para a visitar.

Já a questão das torres de S. Gualter não me é assim tão indiferente, até porque estou a olhar para elas neste momento. A introdução das torres descaracterizou por completo a obra de André Soares. Já não direi tanto da Igreja dos Congregados, mas quase. Tanto uma, como a outra, dispensavam os implantes artificiais que lhes colocaram no século XIX, quais Pamelas Andersons da arquitectura religiosa. Nesta caso, a Madalena da Falperra teve mais sorte...

Mas, volto à questão inicial: André Soares é uma figura de proa do barroco português. Nicolau Nasoni , também, mesmo tendo nascido em Itália (aliás, no mesmo sítio onde nasceu o... barroco).

Francisco Rodrigues disse...

Caro alter ego,
talvez seja melhor ler com mais atenção aquilo que escrevi no post.


Bem, mas se o facto de acreditarem que eu não sabia que a igreja de São Gualter foi a última obra de André Soares, que as torres foram acrescentadas por um arquitecto portuense posteriormente, bem como a falta de uma confirmação oficial da intervenção de André Soares no Mosteiro de Refojos, bem como os extensos exemplares de nasoni construidos em portugal, a certeza que o Elevador do Bom-Jesus não é da autoria de André Soares, e por fim o facto de a capela (excluindo a escadaria) de Santa Maria Madalena se encontra no concelho de Guimarães, agradeço a vossa preocupação em prestarem esses ensinamentos.

Francisco Rodrigues disse...

E por fim, as torres da Basílica dos Congregados foram terminadas já no Século XX.

Francisco Rodrigues disse...

Numa coisa este tipo de votação autocolante (já que o tempo a desgasta) é útil, ja que serve para as pessoas esgrimirem argumentos, neste caso sobre o património, tentando fundamentá-los ao máximo. O ideal seria mesmo que mais gente visitasse os monumentos, teatros, museus, conhecesse os seus segredos, os preservasse, em vez de se prestar atenção no avental da ministra ou nos seios da Jennifer.

Alter Ego disse...

Nada disso, meu caro. Olhe que não é preciso puxar dos galões. Estou certo de que sabe tudo, e mais alguma coisa, e, se eu quisesse ensinar, ia para professor em vez de mandar umas bocas no seu blogue.

Quem falou naquelas igrejas em primeiro lugar, não fui eu. Desde o princípio, o que eu tenho discutido não é a história da arquitectura religiosa portuguesa, mas sim essa sua ideia peregrina de que a torre dos Clérigos foi favorecida só por ser obra de um arquitecto que nasceu na Itália. Peço desculpa por não concordar consigo. A Torre dos Clérigos é uma obra impar do barroco português, por si e pelo seu peso simbólico.

koolricky disse...

Eu nunca disse que o elevador tinha sido contruído por um Português, muito menos por André Soares. Acho sim que por trás destes eventos estão interesses muito maiores do que a beleza ou importância de um determinado monumento.
E como Braga (clube de futebol incluído) é uma cidade que abomina o marketing e os benefícios que este pode trazer, não me admira nada que tenha ficado sem nenhuma nomeação.
No entanto, se forem ler os guias estrangeiros de turismo podem ler que todos eles classificam o complexo religioso do Bom Jesus como uma jóia a nível mundial. O resto meus amigos, são influências e jogos de bastiadores.

Alter Ego disse...

Oh meu caro koolricky,

E, porventura, alguém disse que disse?

Alter Ego disse...

Peço desculpa, Francisco, mas,de facto, desta vez, não li tudo.

Eu não prestei nenhuma atenção ao avental da Ministra (nem o vi), já quanto às protuberâncias da Jennifer...

Caesar disse...

Em relação à Igreja Maria Madalena já não existe disputa. O padre responsável já apresentou os documentos do terreno da igreja, nos quais são Braga. Agora os terrenos, também pertencentes à confraria por detrás da dita igreja já são Guimarães. O muro que delimita os concelhos é o muro sul do escadório.

Caesar disse...

Falta dizer que são os escadórios laterais.