11 março 2009

Sebastião Alba



Este filme foi realizado como forma de homenagem ao poeta Sebastião Alba através de um poema de Antonin Artaud intitulado "A Busca da Fecalidade" No filme surgem também poemas de Alba e do próprio realizador Ricardo Leite. O filme foi inteiramente rodado na cidade de Braga, onde o poeta viveu os seus últimos anos de vida. A cruz evocada, a cruz da fecalidade, da decadência, da provocação, é como que um espelho simbólico, Alba, Artaud e o realizador, comungando a poesia das palavras e imagens. Entrecruzam-se assim a essência, o corpo, a merda, parentes num jogo poético, cruel e trágico. Sebastião Alba nasce em Braga a 11 de Março de 1940. Passa a infância em Torre de Dona Chama. Aos 9 anos embarca para Moçambique. Aos 13 anos começa a ler variados clássicos, algo a que o seu pai o incentivava, depois continua a ler por iniciativa própria. Aos 21 anos é arregimentado no contingente geral, em Boane, a cerca de 20 quilómetros de Lourenço Marques, de onde deserta, vindo a ser detido e acusado injustamente por "extravio de objectos militares". Em 1965 com 26 anos, publica o seu primeiro livro em Quelimane intitulado "Poesias". Trabalha como jornalista e angariador de publicidade e conhece o interior mais recôndito de Moçambique. Em 1969 casa com Felisbela e com ela tem duas filhas, Sónia e Neide. Em 1974 morre um dos seus irmãos que lhe era muito próximo num acidente de viação. Nesse mesmo ano é publicado "O Ritmo do Presságio" na Livraria Académica de Lourenço Marques. Lecciona Economia Política e outras matérias num curso de formação da FRELIMO. Em 1978 publica "A Noite dividida". Em 1983 abandona Moçambique e passa a viver em Braga com a mulher e as filhas. A partir daí começa a "abandonar-se", vive em quartos de aluguer, começa a beber e não consegue arranjar emprego fixo. Em 1993 divorcia-se, vai cada entregando-se cada vez mais à errância. Nos anos seguintes começa a fazer-se notado e procurado por algumas pessoas, alguns para lhe falar, outros para o entrevistar. Uma dessas pessoas é Francisco Weyl e Célia Gomes, cineasta e fotógrafa, ambos brasileiros, captam imagens raras do poeta em vida. Alba torna-se então uma referência literária e pessoal para a juventude bracarense. Dorme em abrigos e à porta das igrejas, deambulando, bebendo e escrevendo. A 14 de Outubro de 2000 morre atropelado, o autor do atropelamento foge, alba deixa um bilhete dirigido ao irmão: «Se um dia encontrarem o teu irmão Dinis, o espólio será fácil de verificar: dois sapatos, a roupa do corpo, e alguns papéis que a polícia não entenderá.»

Texto e filme de Ricardo (Cinemapobre)

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